01/09/2010

Sobre ciência e misticismo

Segue um pequeno texto meu com algumas considerações acerca do que se debateu na aula de Metodologia em Ciência da Informação no primeiro semestre letivo de 2010.
Um dos antagonismos mais clássicos da história humana é o embate entre ciência e religião. Se na aurora da humanidade os fenômenos naturais eram reflexos dos caprichos dos deuses, pouco a pouco explicações racionais, mais “terrenas”, foram ganhando espaço e redefinindo a maneira de se enxergar o mundo. Acontece que ao se mostrar uma ferramenta mais coerente e trazer determinadas melhorias à estada humana na Terra, criou-se ao redor da ciência uma espécie de mito, uma crença feérica em sua exatidão. Ora, estaria a ciência se igualando à religião?
No intuito de se redescobrir a essência do que de fato seria ciência, há que se quebrar essa aura mítica ao redor da instituição.

De início, é cabível afirmar que a ciência não é maniqueísta. Não existe ciência boa ou má. A ciência é uma busca eterna por respostas, onde cada resposta é combustível para uma nova pergunta. Mas e os benefícios (e malefícios) advindos da ciência? São subprodutos do que seria a prática científica. Um exemplo disso é a descoberta da penicilina. Aquele emblemático relato que narra como Alexander Fleming descobriu a substância bactericida. Dessa forma, elaborar produtos não seria a finalidade primeira da ciência.

Ciência não é uma grife. De longe, nem todas as atividades humanas que trabalham com alguma forma de conhecimento se classificam como ciência. Culinária não é ciência ou mesmo a arte de fazer esculturas em sabão, o que até aí não se consiste em um problema. Acontece que alçar determinada área do conhecimento à categoria de ciência tornou-se uma obsessão da Idade Contemporânea, onde o selo “ciência” lança sobre a área um certo ar de legitimidade.

Pesquisa científica não é consultoria. Em linhas gerais, quando se está fazendo uma pesquisa para se resolver um problema específico de uma empresa, focado apenas na realidade daquela instituição, se está prestando uma consultoria. Não há a caracterização da ciência como uma busca desapegada por respostas, uma busca sem garantias de que se ache. Mas como ciência tornou-se uma marca de grife, por vezes, vemos consultorias sendo confundidas com pesquisas científicas.

Ciência não é 100% objetiva. Por mais que supostamente infalíveis sejam o método ou os métodos científicos, a prática científica é levada a cabo por cientistas humanos, munidos de todas as suas particularidades, que acabam por afetar de alguma forma os resultados que porventura venham a obter. Se é impossível evitar a “contaminação”, que ela seja reconhecida, de forma a se trabalhar com as limitações.

Metodologia científica não é um engessamento para pesquisa científica. Ao se ler um bom número de trabalhos acadêmicos, por vezes, a impressão que se tem é que muita energia foi gasta em se rotular as etapas da pesquisa do que na descrição apropriada dessas etapas. E assim como ser “científico” está na moda, determinados tipos de pesquisa acabam angariando a simpatia de diversos cientistas de forma que o trabalho científico se molda à metodologia ao invés do contrário.

Mas, depois de tantas negativas, afinal, o que é ciência? Não é uma tarefa das mais simples definir o que é ciência. Melhor do que cunhar uma definição taxativa é tentar voltar à essência da prática científica. Ciência é uma forma de se enxergar o mundo baseada em apreensões contestáveis. Enxergá-la como uma panacéia para todas as questões humanas é alçá-la a condição sobrenatural e foge ao escopo de uma busca desapegada por respostas.